20111118

Amizade que liberta

Lembro-me quando tive meu encontro pessoal com o senhor: eu era DJ, tinha uma aparelhagem de som, saia dando bailes por ai a fora... Tinha umas amigas que sempre nas festas que eu fazia ficavam na minha frente, dançando e sempre vinha uma delas me pedir alguma música. Aos sábados quando não tinha festa sempre saia a noite, ia para baladas e freguentava lugares onde não devia estar.

Tinha feito minha primeira comunhão com 18 anos e fuji da igreja logo em seguida. Perto das baladas e longe da igreja, fui vivendo minha vida. Até que um dia minha irmã, que era catequista da crisma, me chamou para vir estudar com ela. Pensei: por que, não? E fui. Até mesmo porque uma das minhas amigas era catequista e estava nos bailes comigo, fazer a crisma não significava mudar.

Fiz a crisma e até ai tudo bem. Mas logo em seguida fui chamado a ser ministro da Eucaristia, aceitei sem muito saber o que fazia. Fui aprendendo o que era âmbula, sanguinho, corporal, em fim. Certo dia o Padre disse para mim: No domingo de manhã seu grupo fará uma celebração da Palavra. Isto causou pane no ministro da Palavra do meu grupo, que disse não está preparado para tal celebração. Você deve se preparar que quando for assim, irá pregar: disse-me o Padre.

A partir deste dia comecei a ler a Bíblia e refletir sobre o que ali estava escrito. Passei por uma crise, o que estava escrito ali estava longe do que eu ouvia nas missas. Cheio de perguntas e o Padre só me dizia: não é bem assim. Ao mesmo tempo no meu coração se enchia de convicção, foi quando comprei um catecismo e passei a estudar. E a convicção virou certeza, havia algo errado.

Com o passar do tempo algumas músicas já não cabiam mais no repertório, assim com certos tipos de danças, certo lugares eu já não devia estar e infelizmente minhas amigas não me acompanharam. A minha linguagem mudou porque minha consciência mudou, mudou os conceitos, mudou minhas roupas, mudou minha vida... As pessoas que eu mais amava não me acompanharam, por mais que eu não quisesse minhas escolhas incomodavam.

Vou dar exemplo: Fui coordenador do grupo jovem e mesmo não querendo o padre da comunidade me permitiu ensinar o Catecismo da Igreja, na falta de subsídio convenci-o a ensinar assim. O grupo começou a dar resultado. Quando organizamos uma caravana para ir ao PHN, algumas pessoas organizaram uma van para ir a um baile funk famoso aqui do Rio. Aqui sempre teve padre da teologia da libertação e devido à metodologia autônoma de Paulo Freire toma uma postura neutra nestas questões, para eles não se deve ensinar nada.

Mas quase todo mundo sabe que se os pais não ensina seu filho que droga é ruim, o traficante que não é neutro ensina a usar e diz que é maravilhosa; é aquela velha estória: se não aprende em casa, aprende na rua, ou melhor, hoje se aprende até em casa sentado no sofá. Minhas amigas aprenderam coisas na rua que os fizeram desacreditar na religião. Uma delas, somente uma delas ainda participa da comunidade, é meio neutra, também, mas ainda está lá.

Enquanto eu me dôo, acolho, oro, rezo, ensino o pouco que sei e que nosso verdadeiro amigo é Jesus Cristo, coloco nas mãos de Deus. Quem sabe um dia terei os amigos que mais amava felizes ao lado de Deus.

“Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida pelos seus amigos. Vós sois meus amigos se fazeis o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Eu vos chamei de amigos, porque vos comuniquei tudo que ouvi do meu Pai”. (João 15,13-15)